terça-feira, 24 de junho de 2008

Sobre o vinho e o amor

A taça de vinho é a que mais me preocupa:
Ela está lá e eu a estou encarandocomo um bêbedo, que nunca fui.
Mas é quando se pensa no amor que tudo flui.
Pouco a pouco vou-me encarnandoe o vago espaço se ocupa:
A poesia é tragada com o primeiro gole,O segundo vem com o trote,que tão bem se desenvolve.

Degusto o vinho porque amo;
pois num vejo o outro.

Seguro a taça de vinho com a firmeza de um abraço,
tenho-a nas mãos e a trago para perto.
Sinto a essência como se nela estivesse o perfume da minha amada.Fecho os olhos e levo-a à boca, num deleite apaixonado.

Em tudo se parecem.

É como se a envolvesse e abraçasse,
e no âmago de nossas vontades, roubo-lha o calento e o perfume
e num beijo amargo, que se põe doce,
sinto o álcool entrando e o etéreo chegando.

quarta-feira, 7 de maio de 2008

Poema Quinto

O amor se mata aos poucos,
lentamente...saborosamente...
Envenenando-o com chumbo,
cortes nas artérias.
Hemorragias internas de lágrimas de despedida,
foices de desespero.

Faz-se um pacto de sangue com o ódio.
Mata-se o amor pelo desprezo.
Ceifa-o sem piedade.
Corta-lhe os membros com a um inseto inoportuno.

O amor se mata cruelmente:
com palavras árduas em doces atos.
A morte é saborosa.
O amor se mata tísico,
Fraco, incapaz,
Quando se tem oportunidade.

O amor é morto amando outrem,
Seja quem for.
É torturado pela pena.
É rasgado pelo desprezo.

O amor se mata aos poucos...
Ceifa-lhe a essência
E deixa a vã lembrança desestruturada
passível de corrupção...
O amor é corrompível!

segunda-feira, 5 de maio de 2008

Evocação ao jurista jazido em minh´alma

Coração na mão.
Razão na outra.
Entre os sulcos da mente estou
a declamar a derradeira
CAPACIDADE
de suportar ambos com o mesmo peso.
Talvez até erga o coração para se fazer valer a razão.

O que é a razão?
Entre mil discursos universalistas, descubro:
a razão não existe.
Então, sem coração nem razão, julgo.
Creio. Estudo. Analiso.
Profiro, por fim, a sentença.Estou.

Onde?
Com a certeza de que estou aqui
e que o aqui é onde estou. Vou.

Para onde?
Para onde creio.

E em que creio?
No justo.

Vou-me, assim, sem coração nem razão, para a Justiça.

domingo, 4 de maio de 2008

Suspiros Transcendentais

O eu lírico agradece
E reconhece:
este poema pertence
ao que lhe agride.

A cada momento de fraqueza
houve uma palavra proferida,
Causadora de tal tristeza,
uma eterna ferida.

Noites mal dormidas.
Dias angustiantes.
Tardes desgraçadas.

Olhar o céu azul
Com os olhos céticos
E ver nas pessoas
A eterna desavença.

O eu lírico reflete
E percebe:este poema serve
Para um bom desabafo.

É de sofrer de pormenores
Que a alma embrutece
E o poeta perece.

São dores muitas nesta vida
E quem não suportar
Há de recair na avenida.

Os ombros são fracos
As angústias, muitas.
E quem usar ombros alheios
Para melhor se sustentar,
Há de perceber
Que carece de assistência.

Ando sobre os meus pés,
Eles são mais fortes, mais resistentes,
Sei que neles posso confiar.
O caminho dos outros é obscuro,
Fico hesitante em traçá-los.
O eu lírico deste poema
Sente-se em total fragilidade,
Seu caminho foi desviado,
Suas metas, alteradas.

E cada verso prescrito
É uma ferida reaberta,
São cortes na bruta alma
De um guerreiro capturado.

Na vida, sentir-se abandonado,
Ser a escória da sociedade,
O exilado da vila,
É ser o lobo solitário.

O eu lírico vê neste poema
O ombro amigo em quem pode confiar
E contar suas mágoas.
Mas elas são muitas,
Os problemas são grandes.
E por ser um lobo solitário,
Tenta resolver tudo sozinho

A jornada é complicada:
Ser uno,
Quando se requer companheirismo.
E as conseqüências são claras.

Cada verso aqui jazido
Traz à tona lembranças
Que descansavam esquecidas.

O eu lírico agradece a todos
Que relembram o passado,
Que lhe cavam a mente
E causa-lhe tremenda dor.

Cada verso neste poema
É efeito de um suspiro
Que lhe traga a alma.

Estas lembranças trazem a tristeza,
A volta dos maus tempos,
A ânsia, a angústia,
A dor
E tudo o que deverias ser enterrado.
Pois para um lobo solitário,
Alguém que está sempre só,
Os problemas passados devem ser exilados.
Os caminhos sem problemas
São mais fáceis de serem traçados.

Cada pedra no caminho causa-lhe suspiros.

O eu lírico agradece
Todos os transtornos,
Porque esses lhe trouxeram
Os suspiros da vida.
Os Suspiros Transcendentais.

quinta-feira, 3 de abril de 2008

Apologia infundada à ética

Procura-se uma ideologia capaz de afirmar a ética.
Um ideologista fervoroso e moralmente consciente.
Não necessita ser sociocêntrico.
O egocentrismo é plausível e admirável.

Procura-se um excêntrico que não se venda,
um louco qualquer que defenda sua opinião,
que se valha apenas de sua força retórica.

Que o dinheiro seja visto apenas como meio,
nunca como fim.

Procura-se um ideólogo que não trespasse as barreiras da ética.
Alguém que possa estender a mão para os outros
sem que antes tenha tido que derrubar outros a mais.

Convenhamos, aqui entre nós,
no silêncio dos versos,
Que a ética deve estar acima da retórica;
Que a ética não deve ser subjugada pelos delírios egoístas
dos seres, nossos concubinos terrestres.

Desejo a ética universalista e categórica.
Sê justo, resumindo as máximas kantianas.
Mas sê-lo por ser, como fim,
e não como meio de se obter outras coisas.

Procura-se um ideologista capaz de afirmar a ética
superior a sua própria ideologia.

sexta-feira, 28 de março de 2008

Poema Sétimo - Onipotente

Minha mente é tão fantástica que eu criei você.
Criei a mim mesmo e os meus defeitos.
Produzi meus óculos, a cadeira que se dispõe à minha frente.
Criei cada traço da pessoa que está na minha frente e se julga superior.
Isso tudo por causa do ócio.

Estava sozinho e produzi na minha mente,
as paredes, o teto, o céu, a televisão,
o noticiário que diz que o mundo vai se acabar.
Criei os fanáticos religiosos que eu tanto odeio -
precisava de algo para odiar -
criei coisas que dizem que não se pode criar.

Produzi meu universo.

domingo, 9 de março de 2008

Às mulheres

Tende orgulho em ser mulher!
Esse canto de sereia que me prende
Quando, então, resolves sibilar aos ventos
Teus segredos e encantos.
Os braços cálidos que abraçam
e envolvem e protegem e afagam.
O peito extravazado de ternura.
A perspicácia de uma menina-raposa,
serelepe, que vem a nos pregar uma peça de amor.
Esse carinho e delicadeza de vós em perceber,
Manifestar e adorar cada mínimo detalhe de esperança.
É, quiçá, por isso, que tenho tamanho apego por vós, mulheres.
Sois o resto de encanto do mundo
e o que dá sentido e direção ao tempo.
Sem vós sou nada, sou pedra rolada,
Rendido ao desalento.
Sois, por fim, a beleza da vida.